Qual pessoa já não se olhou no espelho e ficou sensivelmente incomodada com o que viu?
Qual pessoa já não sentiu vontade de ser mais magra, mais alta, mais em forma, mais loura, mais morena, mais qualquer coisa do que realmente é?
Quem já não viu a onda do momento passar e deixar marcas profundas por não se ter a cor certa, o tamanho certo, o volume correto, a textura ideal?
Quem já não chorou (ou sentiu vontade pelo menos) por desejar algo diferente do que se tem?
Quem? Quem?...
Eu já passei por isso, você já passou por isso, sua irmã, amiga, namorada ou esposa já passou por isso...
Aqui estou eu sentada diante da tela do computador desejando não ter nenhuma grama de gordura a mais. Sabe quais? Aquelas a mais que se anunciam por si só ao sentar, ao olhar no espelho e ao experimentar a roupa de ir para a praia ou piscina.
E não importa se estamos 3, 10, ou 30 kilos acima do peso, a sensação incômoda nos faz sentir igual porque nossa percepção do que é belo nos foi alterada por tudo e todos à nossa volta ao longo de muitos anos.
Eu só fui entender essa sensação ao entrar na idade dos 30 e alguma coisa. Depois dessa fase, tudo começa a mudar: o metabolismo desacelera, a pele começa a ficar mais flácida, começamos a comer melhor e mais e a nos exercitar menos.
Eu só fui entrar na zona do desconforto real depois da segunda gravidez.
Tento me convencer de que não é nada tão sério, mas meu cérebro não acredita mais. Tento buscar exemplos de mulheres comuns ou famosas com resultados satisfatórios depois de gravidez, mas só encontro resultados perfeitos.
Só existe a perfeição! Só existe mulheres perfeitas: cabelos impecáveis, sobrancelhas impecáveis, rostos lisinhos, unhas e mãos como que acabadas de sair do salão, pernas torneadas, celulite e estria só com microscópio, barriga de modelo ou de atleta, bumbum e seios durinhos e empinados, gorduras controladas e zeradas e sorriso sempre no rosto!
As pessoas sabem de tudo ou quase tudo sobre silicone, botox, cirurgias, personal trainer, dietas, alisamentos e escovas progressivas, maquiagem definitiva, etc.
Homens e mulheres! Até adolescentes!
Parece obrigação se cuidar dessa forma, parece obrigação ter a beleza dentro de um padrão, parece obrigação buscar tudo isso.
Parece feio não se encaixar nisso tudo, parece feio não buscar a perfeição.
Eu me achava tão bonita na adolescência, ainda acho, mas parece que falta algo, parece que deixei escapar algo essencial no caminho da maturidade.
Me sinto mal se não estou com a postura perfeita, se não estou com o peso perfeito, se tenho olheiras de noites mal dormidas por cuidar da bebê, se me olho no espelho e vejo minha flacidez.
Tento me alertar que essa busca pela perfeição é impossível, que estou feliz desse jeito, mas já fui contaminada em parte: não consigo ficar sem fazer as unhas (e como me sinto feliz depois de fezê-las), fiz escova progressiva no meu cabelo buscando o liso perfeito que sempre tive e que depois da gravidez se alterou (e como foi bom olhar e reconhecer o meu cabelo de antes), não consigo ficar sem me depilar constantemente (me sinto outra pessoa depois, até meu humor muda) e me sinto inadequada não tendo mais aquele corpo que antes tinha e que me fazia tão feliz e eu nem sabia.
Estou acima do peso, não tanto que não dê para esconder, mas o problema não está em agradar aos outros, mas em conseguir me convencer que está tudo bem da forma que estou porque eu já não consigo.
Como fazer para deixar isso de lado quando aqui, ali e lá só vejo a busca dessa perfeição, só vejo a valorização, sutil ou não, dessa busca desleal, só vejo exemplos de que é possível sim, só basta querer...
E é assim que estou vivendo, acreditando que se eu quiser, eu mudo meu corpo e me sinto melhor comigo mesma.
Mas uma coisa é acreditar nisso, outra é conseguir fazer isso sem perder (mesmo que a curto ou médio prazo enquanto tenta desacelerar a gula e acelerar o metabolismo) outras coisas tão boas da vida: sair para um happy hour, comer a vontade, beber, preparar e provar doces e bolos, dormir a mais ou ficar com as crianças à toa bem na hora da academia, ficar sem culpa na frente da tv comendo pipoca e brigadeiro...
Mas como já disse, já fui contaminada por toda essa loucura e enquanto não perder esse kilos que me atormentam, não me considerarei tranquila!
Aí vem outra parte do problema: a culpa por não conseguir engrenar nessa busca. Embora eu saiba que não é minha culpa inteiramente estar nesse furacão, a maioria está porque foi e é bombardeada clara ou sutilmente por anos a fio.
Ah, sei que tem a importante questão da saúde para me preocupar a longo prazo, mas hoje eu só queria me sentir bem com meu corpo (que é perfeito e lindo mesmo fora desse louco padrão).
"Porque toda garota merece sentir-se bem consigo mesma!"
Campanha Dove pela valorização da auto-estima e da real beleza. (Aquela que mais importa na vida, eu sei!)
Como é tola essa busca pela tal da perfeição, como há coisas mais importantes para nos preocuparmos e para focar nossos pensamentos e agradecimentos, como é tolo o ser humano!
Hoje eu só queria colocar isso para fora e funcionou: já estou me sentindo bem comigo mesma e com as minhas gordurinhas.
Elas podem não ser a parte mais interessante do meu eu, mas elas são resquícios dos meus maiores tesouros: minhas menininhas. Fazem parte de mim, de minha estória.
Hummm, soa um tanto forçado ou exagerado? Pergunte a qualquer mamãe o que elas acham, elas vão concordar!
Ah, vai entender o percurso do raciocínio humano! Comecei falando de algo e fui parar em outro. Mas se prestar atenção, vai encontrar a ligação!
Beijos e boa noite!
Ou bom dia!
Ou boa tarde!
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