terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Canções: Forrest Gump Suite (Alan Silvestri): uma saudade! 06/12/09



Carta de saudade apertada:
Mãe, chove aqui em casa. Quase todos dormem e mãe, nesse momento raro de silêncio eu gostaria de te dizer uma coisa:
Mãe, eu sou uma mamãe feliz. É importante te dizer isso antes de qualquer coisa porque sei que sempre sonhou com esse dia, mesmo que não tenha me dito isso com todas as letras...

Sou também uma esposa feliz e sou uma filha quase feliz.
Esse quase você deve saber o porquê. Sei que dizem que a vida é assim mesmo, mas só quem já passou por isso entende quão cruel a despedida pela morte pode ser.
Essa despedida antes do tempo muda tudo. O sol continua a brilhar, a noite tem milhões de estrelas, os dias voam apressadamente pelo calendário, mas algo muda, tudo muda e perde-se a leveza.
Mãe, para ser sincera, eu não estou sabendo lidar com tudo isso como todos imaginam que eu esteja. Ninguém mais me pergunta como estou, como está o vazio e muitas vezes eu gostaria de falar sobre isso, eu gostaria de colocar para fora, mas nunca há tempo, nunca há oportunidade. Mãe, como a vida anda corrida, como todos parecem apressados, como é difícil ser adulto e sentir vontade de que o tempo parasse um pouquinho para a gente tentar se recuperar de uma dor e perceber que isso não é possível e não saber se um dia será.
Esses dias eu precisei tomar uma decisão profissional tão importante e difícil e eu queria e precisava tanto de seu conselho, de seu incentivo (ou pedido de precaução), de sua opinião, de seu colo e aquela certeza de que não importasse o caminho, tudo daria certo, que era só ter paciência. Como eu me senti ainda mais perdida...
Mas mãe, o mais importante: você acredita que eu sou uma mamãe? Mamãe de duas menininhas. Você acredita que muitas vezes eu olho para elas e quase não acredito que eu sou a mamãe delas e que elas são minhas? Parece um sonho, parece um presente muito mais lindo e muito mais envolvente do que tudo que eu já tinha vivido ou imaginado viver. Não é fácil o tempo todo, existe o caos, mas elas são minhas menininhas, mãe. E como eu queria ter você aqui conosco acompanhando tudo que elas estão vivendo e nos oferecendo a chance de vivenciar junto. Mãe, elas são lindas! Elas existem porque um dia você sonhou comigo e eu fui o seu presente. Então obrigada por me dar essa chance.
Mãe, não existe um dia que não penso em você e em tudo que nós vivemos juntas. Ah, mãe, eu nunca imaginei ficar sem você e me dói muito nao te ter aqui conosco.
A Ana Luisa fala da senhora o tempo todo. A vovó Jaci isso, a vovó Jaci aquilo. Uma fofa! Ninguém entende como ela se lembra tanto.
Ao mesmo tempo que é doloroso ouvir isso e não poder te ter aqui conosco fico muito feliz dela tocar tanto no seu nome, dela conseguir lembrar e dela usar seu nome para coisas que ela não sabe muito bem a resposta. Mas ainda não expliquei para ela o que aconteceu. Eu acho que ela acha que a senhora está em algum outro lugar e por enquanto isso basta para todos nós. Vou saber quando chegar a hora. Eu conheço minha menininha e ainda não é o momento. Não houve mentiras e ela nunca perguntou. Ela apenas deduziu por si só que já que não está aqui, está em outro lugar (embora ela nunca tenha dito isso com todos as letras). E eu deixei seguir.
A Ana Julia ainda não sabe quem é a senhora, mas logo, de tanto que ela pega o porta-retrato com nossa foto do dia do meu casamento, a Ana Luisa vai contar tudinho. Eu ainda não consegui. Mas também saberei quando for a hora.
Tudo a seu tempo...
Mas mãe, eu ainda choro em silêncio e em segredo. E muitas vezes não choro, o que é pior.
Será que eu já deveria ter passado dessa fase? Será que todos que perdem alguém finjem estar bem? Será que voltam a acreditar na suavidade da vida? Será que estamos condenados a viver com essa sensação de que sempre faltará um pedaço importante?
Não sei mãe e nem quero pensar mais muito sobre isso. Já chorei bastante por hoje. Agora só o que queria é que eu não tivesse que trabalhar amanhã e que pudesse ficar em casa o dia inteiro, só em contato comigo, quietinha, só fazendo nada daquele jeitinho que preciso para renovar minhas forças e que a senhora conheceu tão bem. E antes dessa minha fuga necessária para tomar fôlego, seu eu pudesse ter seu colo, eu teria a certeza de que tudo sim ia dar certo e que era questão apenas de tempo.
Mãe, que saudade de invadir sua cama e te beijar, beijar mais um pouco, abraçar, fazer cosquinha e ficar do seu lado sem fazer nada.
Acho que por isso que amo tanto e ainda um pouco mais fazer isso com minhas meninas.
Amo você. Sempre amei. Sempre amarei.
Você era um pedaço importante do que eu sentia como um porto seguro.
Simples assim.

Um comentário:

Unknown disse...

Não faço ideia de como é a sensação, embora pense nisso. Não consigo me imaginar sem. Apesar do distanciamento da vida e da distância física, a presença na mente é grande.
Espero ter lucidez, espero ter calma, espero ter força, espero não ser egoísta...
Enfim, beijo pra vocês.